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Período Estendido: um tempo para a vida, não apenas para a escola

Artigo por:

Bárbara Rodrigues, Sandra Barros e Thais Paiva - Pedagogas - Professoras do Período Estendido - Escola Stagium

Maristela Paiva - Pedagógica, pesquisadora da Infância, Coordenadora Pedagógica do Período Estendido da Escola Stagium


Quando os responsáveis pela família têm real necessidade de permanecer o dia todo no trabalho, e em alguns casos, não contam com uma rede de apoio familiar, deixar as crianças mais tempo na escola torna-se a única solução para pais que buscam proporcionar aos seus filhos, um tempo de qualidade em um ambiente com zelo, segurança e diversidade de vivências. Portanto, estão se tornando cada vez mais importantes espaços que ofereçam um ambiente acolhedor e atencioso, além do horário escolar.


Muitas instituições de ensino têm se especializado e investido na capacitação de profissionais que são responsáveis pelo chamado serviço adicional de período estendido, que atuam em projetos pensados com especificidades e cuidado para atender as crianças que ficam na escola além do período pedagógico. Há modelos em que os pais podem fazer opções por atividades, de acordo com interesses das crianças ou caso desejem enriquecer os estudos, refeições, atividades extras, jogos e esportes, de forma organizada, ordenada e interessante.


Um espaço escolar voltado para uma proposta tradicional, muitas vezes não é suficiente para garantir proteção e desenvolvimento integral para crianças que precisam adquirir habilidades para viver bem na sociedade complexa do nosso tempo. Os projetos educativos de um período estendido devem ser pautados em propostas que cruzam a experiência escolar com a experiência de vida em sociedade e a tornam responsabilidade de todos. É preciso entender que cada um é único, com seu ritmo e estilo próprios.


Carla Rinaldi Afirma:


“Projetar um espaço para atender crianças - ou talvez pudéssemos dizer apenas projetar uma escola – é um processo altamente criativo, não apenas em termos de pedagogia e arquitetura, mas também, de modo geral, em termos sociais, culturais e políticos. Essa instituição pode, de fato, desempenhar um papel muito especial no desenvolvimento cultural e uma experimentação sociopolítica real, a ponto de que esse momento (o de projetar) e esse lugar (a escola) poderem ser vivenciados não como tempo e espaço de reprodução e transmissão de conhecimento estabelecido, mas como local de verdadeira criatividade.” (Diálogos com Reggio Emilia).


Não se trata só de ampliar o período que a criança passa na escola, mas de manter a qualidade de sua saúde física e mental, com vivências que tornam o dia das crianças mais proveitosos, prevendo que saindo da sala de aula, possam explorar outros espaços e relações. A prioridade não deve ser apenas estudar e desenvolver conhecimentos formais, mas também socializar, expressar-se por meio do corpo e da arte, brincar muito, comer de forma saudável e, claro, descansar.


A educação além do período pedagógico, dentro da escola, também deve trabalhar aspectos que envolvem a sociedade e a natureza, conhecimentos e habilidades de respeito a si mesmo, aos outros e ao meio ambiente. Deve ter um corpo docente que está engajado em treinamento e atualização contínua, que esteja pronto para acompanhar e estimular o processo de crescimento das crianças. Seu projeto deve permanecer inerente às ações de ser planejada, repensada e aprimorada para que não se perca seu propósito e a qualidade de garantir às crianças seus direitos de estar e VIVER BEM, garantindo um espaço para sua infância curiosa e cheia de entusiasmo, cultivando a imaginação e a criatividade.


Conheça 9 vantagens do Período Estendido


1- Brincar e conviver


Um cotidiano onde os espaços e materiais estejam bem dispostos e organizados, convidam o corpo das crianças a explorar e interagir.


Brincar é coisa séria! É preciso valorizar a infância como força de criação e invenção. Por isso, levar a sério o movimento que desperta o desejo por interagir com o espaço e com o outro, sem distinção de gênero, raça ou idade.


As crianças ocupam os espaços, criam, imaginam, exploram e são felizes. Conduzidas ou não, as brincadeiras acontecem e ainda que no meio do percurso ocorra algum conflito, quando as crianças estão apropriadas de todos os combinados, os educadores passam a não mais intervir, mas assumem o papel de mediadores e observadores das interações e resolução de problemas.


2- Criar novas responsabilidades


Muitas vezes, tentando ajudar, os adultos interferem nas ações das crianças, mas elas têm condições de realizar muitas coisas sozinhas, por isso, podem investir tempo na conquista da autonomia e autoconfiança.


A rotina do período estendido estimula e incentiva a autonomia das crianças. Tarefas simples como: organizar os materiais, jogos e brinquedos após utilizá-los, cuidar de seus pertences, realizar escovação sozinhos, utilizar pratos e copos de vidro durante a alimentação, entre tantas outras responsabilidades, favorecem o desenvolvimento.


Quando se sentem desafiados a ter essas responsabilidades de maneira mais lúdica, tudo se transforma em um jeito mais fácil, significativo e prazeroso de se aprender. Os mais velhos auxiliam os mais novos e essa troca enriquece as experiências.


No papel de ensinar e confiar que a criança é capaz de fazer muitas coisas, possibilitamos que vivencie momentos que a deixará confiante e mais segura.


3- Noções de rotina e processos


Quando fica mais tempo na escola, a criança vivencia uma rotina mais estruturada, que atende suas necessidades com vivências significativas. Para as crianças isso é fundamental, pois organiza o tempo, espaço, a convivência e as atividades que acontecem no dia a dia.


Uma rotina adequada é um instrumento construtivo, pois permite que a criança estruture sua independência e autonomia, além de estimular a sua socialização. É essencial que seja organizada de maneira a dar atenção aos cuidados pessoais e à aprendizagem, cabendo aos professores e colaboradores elaborarem projetos e atividades para que o tempo seja usado a favor das crianças, tendo escuta e proporcionando possibilidades de serem livres e protagonistas.


A criança sente-se segura, se arrisca através das oportunidades que são oferecidas nos desafios diários, tendo o apoio de profissionais que respeitam e auxiliam nas suas dificuldades, com afeto e valorização de suas conquistas.


4- Experimentam se alimentar ou se trocar entre outras pequenas tarefas


A escola também passa a ser uma referência de como alimentar-se com outros parceiros e criar bons hábitos alimentares. É possível incentivar a importância de conhecer novos alimentos e experimentar deixando o seu prato mais colorido e saudável.


A criança pode participar ativamente na escolha dos alimentos, junto com as professoras e colaboradores, e assim se permitem saborear, degustar e experimentar novos sabores e texturas.


Estando mais tempo fora de casa, têm mais oportunidade de executar pequenas tarefas, como tirar o blusão e guardar dentro da sua mochila, tirar e calçar os sapatos. Estas são ricas oportunidades de experimentar a independência e como podem sair-se frente às tentativas de fazer algo que ainda não sabem ou não dominam.


É importante para que desenvolvam a consciência de sua capacidade de planejamento e esforço, ao mesmo tempo que são estimuladas em situações de organização. Em pequenas tarefas, os pequenos aprendem as responsabilidades em relação a si, seus pertences e o espaço que habitam.


5- Vivências diversificadas: artísticas, culturais e esportivas


A expressividade corporal é uma condição para boas experiências de aprendizagem, por isso é indispensável às crianças espaços que se abrem para que exercitem seu corpo e a energia que trazem, no contato entre pares, nas brincadeiras e atividades recreativas e desportivas. Além disso, proporcionar vivências extracurriculares que são capazes de fomentar a arte, cultura e a saúde na prática de esportes, são maneiras de acessar novos saberes de forma significativa.


As crianças com acesso a vivências artísticas e culturais, são capazes de desenvolver a criatividade e produzir suas artes dentro de suas possibilidades. Conectam suas histórias às que ouvem, fazem relações de culturas, experimentam diferentes linguagens expressivas, desenvolvem a psicomotricidade, trabalho em equipe e cooperatividade.


6- Passar menos tempo em contato com celular, TV e computador


Sabemos que já é uma problemática mundial o uso e exposição descontrolada das crianças às telas e brinquedos eletrônicos, o que torna o papel dos espaços educativos uma grande necessidade para o desenvolvimento saudável no que diz respeito aos aspectos sociais, físicos e emocionais. A convivência em lugares em que vivencie o movimento da vida e dos afetos, tenha encontro com coisas novas, com novas artes, manuseie um brinquedo jamais visto, explore ambientes naturais, ouça uma história jamais escutada, dá ritmo a uma infância potente e cheia de novas ideias.


7- Trocas de experiências com crianças de diferentes faixas etárias


Um grupo multisseriado proporciona um estímulo rico de aprendizado, pois descobrem juntos possibilidades novas, a partir do relacionamento com crianças de idades, níveis de maturidade e experiências diferentes. Se desenvolvem, buscando referências um dos outros, desenvolvendo a autonomia, se ajudando entre si e buscando novos olhares para as propostas e diálogos.


No caso de turmas heterogêneas, as crianças mais velhas são referência para as menores que, de qualquer forma, nem sempre têm um papel passivo de observador. De fato, inicialmente a criança mais velha será um exemplo para a mais nova, que aprenderá observando. Por outro lado, a criança mais experiente, torna-se mais segura e confiante, pois assume um papel importante, que nem sempre atua quando está entre crianças da mesma idade.


Do ponto de vista emocional, a convivência entre crianças de diferentes faixas etárias, colabora para que tenham maior facilidade na resolução de conflitos, o que caracteriza estes grupos pela maior facilidade em forjar relacionamentos, fortalecer o sentimento de pertencimento e identificação. Esta é certamente uma característica importante, uma vez que os laços afetivos, que são gerados no grupo, podem favorecer vivências de empatia e solidariedade.


8 - Acompanhamento pedagógico para as lições de casa


Na escola é possível garantir um bom acompanhamento da lição de casa, desde que se estabeleçam tempos e espaços adequados, apoio de um profissional capacitado, e por muitas vezes, as parcerias dos colegas que contribuem muito para um momento de estudo com trocas valiosas, que trazem segurança e possibilitam o aprendizado em conjunto.


O apoio de um educador que faz bons encaminhamentos, reforça e amplia o aprendizado de sala de aula, ajuda as crianças a praticarem importantes habilidades de estudo, ajudando-as a avançarem na dedicação às tarefas e continuarem aprendendo. O acompanhamento é estruturado para que, a longo prazo, as crianças busquem recursos para a realização das tarefas com mais autonomia.


Em alguns casos, pode até dar apoio nas dificuldades de aprendizagem e melhores encaminhamentos para que as famílias deem continuidade em casa, estabelecendo uma boa parceria para ajudar a criança.


9- Alimentação saudável e equilibrada


Um importante fator que preocupa as famílias é o fato de que no dia a dia, as crianças precisam ser expostas a uma boa dieta e qualidade de alimentação.


Alimentar-se na escola, proporciona à exposição a um contexto em que se tem mais oportunidades de desenvolver preferências por uma ampla gama de alimentos saudáveis.


A vantagem do acompanhamento com uma equipe especializada de nutricionistas e cozinheiras alinhadas a um cardápio variado e nutritivo, proporciona experiências saborosas e significativas para as crianças. Elas arriscam-se mais e passam a aproximar-se de algumas categorias de alimentos, como vegetais e legumes.


É muito comum que algumas crianças tenham o paladar resistente e seletivo e uma equipe preparada para o incentivo à experimentação de novos alimentos, permite que se abram para novos sabores e texturas. É notória a evolução, porque o diferencial é o acolhimento por parte dos educadores, modelos e referências dos colegas.


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